EXPLICAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL
"Nos últimos dez anos o Climanálise tem prestado uma grande contribuição à comunidade meteorológica não só através do monitoramento de sistemas já conhecidos, tais como os sistemas frontais, mas também através da sugestão e experimentação de metodologias de análise de sistemas ainda em estudo. Neste contexto se insere o monitoramento da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), iniciado em novembro de 1987 (Climanálise, V.2, No 11).
O monitoramento da ZCAS foi iniciado por ser esse um dos mais importantes fenômenos na escala intra-sazonal, que ocorre durante o verão na América do Sul, com episódios de estiagem prolongada e enchentes que atingem diversas regiões do país, tais como o sul (Casarim e Kousky, 1986; Quadro, 1994) e o sudeste (Calheiros e Silva Dias, 1988; Silva Dias,1988; Climanálise, V.6, No 5).
Climatologicamente a ZCAS pode ser identificada, na composição de imagens de satélite, como uma banda de nebulosidade de orientação NW/SE, estendendo-se desde o sul da região Amazônica até a região central do Atlântico Sul (Kousky, 1988), ou ainda em padrões de distribuição de radiação de onda longa (Carvalho et al., 1989). O estudo observacional feito por Kodama (1992) mostrou diversas características comuns entre a ZCAS, a Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS) e a Zona Frontal de Baiu, chamadas, de uma forma geral, de Zonas de Convergência Subtropical (ZCST). Essas características comuns seriam :
- (i) estendem-se para leste, nos subtrópicos, a partir de regiões tropicais específicas de intensa atividade convectiva;
- (ii) formam-se ao longo de jatos sub-tropicais em altos níveis e a leste de cavados semi-estacionários;
- (iii) são zonas de convergência em uma camada inferior úmida, espessa e baroclínica;
- (iv) estão localizadas na fronteira de massas de ar tropical úmida, em regiões de forte gradiente de umidade em baixos níveis, com geração de instabilidade convectiva por processo de advecção diferencial. Especificamente em relação à ZCAS, esses resultados foram também confirmados por Quadro (1994).
Os mecanismos que originam e mantém a ZCAS não estão ainda totalmente definidos, porém, estudos observacionais e numéricos indicam que esse sistema sofre influências tanto de fatores remotos quanto locais. Aparentemente as influências remotas, tal como a convecção na ZCPS, modulam o início, duração e localização da ZCAS, enquanto os fatores locais são determinantes para a ocorrência desse fenômeno, ou seja, sem eles o sistema provavelmente não existiria.
Quanto aos fatores remotos, Casarim e Kousky (1986) mostraram que a convecção na região centro-oeste do Pacífico, especificamente na ZCPS, implicava numa posterior intensificação da ZCAS, sugerindo um mecanismo de propagação do tipo oscilação de 30-60 dias. A simulação de uma onda estacionária associada ao padrão definido pela ZCPS/ZCAS, com um modelo de circulação geral da atmosfera (Kalnay et al., 1986), mostrou que a existência dessa onda estava vinculada à conveção na região tropical e nas próprias Zonas de Convergência.
Diversos podem ser os fatores locais, porém, o único consenso parece ser quanto ao papel da convecção na região Amazônica. Em um estudo observacional das Zonas de Convergência Sub-Tropicais, Kodama (1993) mostrou que essa zonas aparecem somente quando duas condições de grande escala são satisfeitas:
- (i) o escoamento de ar quente e úmido, em baixos níveis, em direção às altas latitudes ; e
- (ii) um jato sub-tropical (JST) em altos níveis fluindo em latitudes subtropicais. O escoamento em baixos níveis intensifica a convergência de umidade enquanto, combinado com o JST, intensifica a frontogênese no campo da temperatura potencial equivalente, influindo na geração da instabilidade convectiva. O estabelecimento desse padrão de circulação está claramente associado à atividade convectiva na Amazônia e Brasil Central, que intensifica o JST em altos níveis, em um processo de conversão de energia cinética divergente em energia cinética rotacional (Hurrel e Vincent, 1991). Em baixos níveis a convecção também contribue na intensificação da Baixa na região do Chaco, que fortalece a convergência de ar úmido sobre a região.
Quanto ao efeito local dos Andes sobre a ZCAS, Figueroa et al. (1994) mostraram, por experimentos numéricos, que o posicionamento adequado desse sistema depende da inclusão da topografia nas simulações. Entretanto, um aspecto interessante (Figueroa et al., 1994; Gandu e Geisler, 1991; Kalnay et al., 1986) é que, simulações sem a inclusão da topografia, conseguem reproduzir um padrão de divergência (convergência) alongada em altos (baixos) níveis, com orientação semelhante à da ZCAS. Assim, embora os Andes não tenham um papel preponderante na gênese da ZCAS, aparentemente intensificam o escoamento em baixos níveis, auxiliando assim a alimentação da convergência com o ar úmido da região Amazônica.
Existem ainda outros mecanismos que estão sendo sugeridos para explicar a ocorrência da ZCAS, como por exemplo, a interação oceano-atmosfera na zona de confluência entre a Corrente das Malvinas e a Corrente do Brasil (Nobre, 1988), e as interações não lineares entre as diversas escalas de fenômenos atmosféricos. No entanto, estes mecanismos ainda não foram confirmados em estudos. O papel do Climanálise no monitoramento contínuo da Zona de Convergência do Atlântico Sul é extremamente importante para a confirmação dos resultados já obtidos e para o aperfeiçoamento de novas idéias e hipótese sobre a gênese desse sistema."
Créditos:Ana Maria Gusmão de Carvalho Rocha-Adilson Wagner Gandu -Departamento de Ciências Atmosféricas (DCA)-Instituto Astronômico e Geofísico (IAG)-Universidade de São Paulo (USP)
Fonte:(Clima Análise) climanalise.cptec.inpe.br
Influência das ZACS na Agricultura
A ZCAS pode ser considerada como o principal sistema de grande escala responsável pelo regime de chuvas sobre o Brasil durante o verão austral, que vai de outubro a março. As observações indicam que ela tende a se posicionar mais ao norte no início do verão, deslocando-se posteriormente para o sul, podendo variar de 10 a 15 graus de latitude. Isto resulta em situações distintas para determinados locais, conforme a região onde ela estaciona.
Além disso, esse sistema influencia um padrão de dipolo entre anomalias de precipitação nas regiões sul e sudeste do Brasil. Pois, observações indicam evidente associação entre períodos de enchentes de verão na região sudeste e veranicos na região sul com a permanência da ZCAS por períodos prolongados sobre a região sudeste. Por outro lado, períodos extremamente chuvosos no sul coincidem com veranicos na região sudeste, indicando a presença de ZCAS mais ao sul.
As variações da ZCAS podem ser atribuídas às frentes (escala sinótica), mudanças dentro de uma estação (escala intra-sazonal), El Niño e La Niña (escala interanual), variações nas temperaturas do oceano em longo termo (escala interdecadal), além de outros motivos.
Assim, as ZCAS estão associadas à condição de chuvas intensas em algumas regiões e estiagem em outras e, dependendo do período que o sistema permaneça, pode haver conseqüências graves para agricultura. Vale ressaltar que muitas vezes a formação da ZCAS pode ser de extremo beneficio para agricultura, trazendo chuvas as plantações, já em outras, as chuvas podem ser intermitentes em algumas localidades, acarretando prejuízos econômicos.
As áreas sujeitas à estiagem prolongada, também podem ser afetadas com prejuízos econômicos, principalmente quando as plantações se encontram em fase critica de crescimento, ou seja, necessitam de uma certa quantidade de água diariamente.
Maiores informações:INPE
Fonte:INPE(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
Poluição e desmatamento podem causar distúrbios Atmosféricos
Um cálculo mais realista redistribui essa taxa média adicional de precipitação (~1mm), concentrando-a mais em regiões específicas, como (i) as denominadas Zonas de Convergência (a imagem acima mostra a Zona de Convergencia do Atlantico Sul – ZCAS) Com ampliação em cerca de uma a duas ordens de grandeza no índice pluviométrico localizado- (ii) grandes zonas urbanas onde a poluição atmosférica funciona como nucleador de condensação das gotículas de água e subseqüente precipitação localizada. Outros disturbios atmosféricos, como frentes frias, provocam pancadas de chuva localizada, como temos visto com frequencia.
Isto explica não só o incremento dos índices pluviométricos em regiões específicas em dezenas/centenas de mm acima dos valores históricos (neve no Hemisfério Norte e chuvas no Hemisfério Sul como Austrália e Brasil: Santa Catarina, Angra dos Reis, Alagoas, Região Serrana do RJ, Minas Gerais), como também as recorrentes chuvas torrenciais em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Informações mais precisas, divulgadas por especialistas em meteorologia podem ser obtidas no site do Projeto Chuva do CPTEC
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